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Assassinato do ambientalista Zé Maria do Tomé completa 10 anos

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Em 21 de abril de 2010, José Maria Filho, o Zé Maria do Tomé, foi assassinado com mais de 20 tiros, a queima roupa, próximo a sua residência, na comunidade de Tomé, Limoeiro do Norte, Ceará. Esse caso é emblemático no contexto dos crimes, assassinatos e violência no campo brasileiro. Zé Maria foi assassinado por defender direitos do povo: direito ao meio ambiente, à terra e ao território, ao trabalho digno, à saúde e à vida.
 
O Movimento 21 publicou uma nota em alusão à data, confira:

O dia era 21 de abril; o ano, era 2010. Há exatos 10 anos tombava no solo avermelhado da chapada do Apodi, por ordem do agronegócio assassino, o ambientalista e companheiro, Zé Maria do Tomé.

No final da tarde daquele fatídico dia, veio o choque da notícia, seguido da dor da perda e da incerteza da continuidade de sua árdua luta. O agronegócio havia mandado um recado para as comunidades da chapada e para os que defendem suas vidas: "não interfiram, não atrapalharem nossos lucros!", não importando se são obtidos às custas de vidas humanas.

O recado veio acompanhado de mais de 20 projéteis cravados no corpo do nosso companheiro que o fizeram tombar, misturando o vermelho do seu sangue como o vermelho do solo defendido, e ao sangue sugado de milhares de trabalhadores em serviços precários e desumanos.

O capital no campo mostrava sua face monstruosa sem disfarce, a despeito da falsa promessa do “Progresso”, tão propagada pelos meios de comunicação e tão ardorosamente defendidas e apoiadas pelas autoridades públicas locais e pelo Estado, que, naquele momento, materializava-se em um rosário de violências - violência do trabalho precarizado análogo ao da escravidão, da saúde das pessoas expostas aos venenos, e violência territorial e ambiental da expropriação da terra e contaminação do solo, da água e do ar. E como se tudo isso não bastasse, veio a eliminação física.

O “recado” foi entendido, sim, porém, de outra forma, pois do sangue que ensopou o solo da Chapada brotaram novos sonhos, para serem sonhados juntos. A resistência e a luta se fortaleceram. Ficou entendido que esse território foi usurpado de seus legítimos donos e que é necessário reapropriá-lo e fazer desse território o lugar da agricultura camponesa, familiar, agroecológica. Enfim, o lugar para produzir alimentos e Vida.    

E o sangue derramado fez nascer o Movimento 21 de Abril, abrigando e unindo num só coletivo, as vozes de muitos outros lutadores que, a partir de então, deram início a uma jornada de lutas em várias frentes, unindo campo e cidade, peões e pesquisadores, donas-de-casa e acadêmicas, agricultores e sindicalistas que, juntos, constroem todo ano, a Semana Zé Maria do Tomé.

Do sangue derramado brotou a convicção de manter firme a nossa luta inspirada na certeza de que “a chapada é nossa, a chapada é do povo, é só lutando que será nossa de novo”.

Assim, a memória da dor, torna-se a alegria da luta, do encontro e dos sonhos.

“Companheiro Zé Maria, aqui estamos nós, falando por você, já que calaram a sua voz”. Melhor dizendo: Em vão tentaram calar. A luta continua!

 

Movimento 21 de Abril.